TIRAS – Folhetim em Quatro Episódios da autoria de carlos Pessoa Rosa – Segundo Episódio

A mulher se dizia, já não o faz mais, emudeceu como a tarde, escureceu sem lua. A única luz está na lembrança do arraial. O resto foi prostituição, boceta aberta por reais que até padre chupou. Ainda bem que doutor operou; não deu tempo de ter nenê mulher. De longa caminhada intuiu que o sexo tem a ver com a qualidade do viver. Aprendeu a chorar de faz-de-conta. Varreu até onde deu, depois apelou. Agora corpo não serve mais para uso animal, passa o dia a chulear a culpa nas margens da memória.

Partes de Amâncio-casado-pai-de-dois-filhos não sonham nem têm consciência, logo, não devaneiam, fizeram de tudo para sobreviver. Cabelos negros pintados de branco, o homem flana vingança no jardim da praça pública. Longa mão segura arma que arrota única palavra que justiça ouve. Não importava quem deitava em sangue, queria acertar contas, melhor se fosse graúdo, mas esses não andavam em lugares públicos. Paciência, se pegava o bagre, o grande logo saberia. Cheirou pó que filho esqueceu na gaveta. Nunca pensou que olhos vissem um outro mundo, que pessoas tivessem cor e a linfa fosse tão vermelha.

(continua)